
Uma história inacabada 2
Por Rodrigo Munari e Julia Bourscheidt
Camilo, era um guri querido.
Tinha 10 anos, cabelos cacheados, pernas finas e falava pouco.
Sua cabeça era cheia de ideias, muitas delas.
Ele era uma pessoa inteligente, mas precisava de concentração e um certo esforço para
se comunicar. Alguns dos seus colegas não o entendiam, mas respeitavam o seu jeito.
Ele era bem sério, quando alguém em tom de brincadeira dizia algo que era pura imaginação, ele não achava muita graça.
Olívia sabia disso, era uma amiga de verdade.
Tinha 10 anos, cabelos compridos e cacheados, pernas grossas e falava muito.
Às vezes, na escola, era ela quem traduzia para os colegas as coisas que Camilo não conseguia expressar direito.
Um dia ele contou para ela, que a cabeça dele era tipo um armário, cheio de coisas meio bagunçadas e, de vez em quando, era um pouco demorado para encontrar a coisa desejada naquela pequena desorganização. Por isso ele se balançava repetidamente, o
movimento contínuo o ajudava a encontrar a coisa dentro da sua cabeça.
Tu sabes o que é TEA – Transtorno do Espectro Autista – ?
A Olívia e o Camilo sabiam bem, ela por ser amiga de uma pessoa com TEA, e ele, por ser uma pessoa com TEA.
Tem uma porção de gente que ainda não sabe: algumas pessoas com autismo tem uma audição mais sensível a sons e barulhos.
Digo isso porque naquela tarde, eles precisaram ser muito espertos.
Cidade pequena, todo mundo se conhecia.. como de costume depois da aula, todos os dias, saíam para brincar na rua (a maioria dos colegas moravam a uns metros de distância um do outro). Naquele dia não foi diferente: Chegaram da escola, trocaram de roupa e saíram para brincar. Juntou uma, duas... três crianças na brincadeira. Olivia, Camilo e outro amigo da rua: Pedrinho.
Pedrinho era o mais velho da turminha, tinha 13 anos e lógico, mesmo muito pouco, já entendia melhor das coisas do que Olivia e Camilo. Porém, não usava isso pro lado positivo! Usava seu conhecimento para tirar vantagem dos outros. Pedrinho sabia que Camilo era uma criança autista, sempre incomodava Camilo por coisas que ele dizia ( que para as outras crianças, na maioria das vezes não fazia muito sentido), mas naquele dia Pedrinho alcançou um nível extremo de bullyng para cima de Camilo. Estragou a brincadeira! Camilo se isolou e por dias não foi mais a escola e muito menos saiu para brincar.
Olivia sempre acompanhava Camilo, freqüentava sua casa, mas naquele período foi difícil entrar em contato. Até que depois de algumas semanas conseguiu convencê-lo de brincar novamente.
Justo naquele dia, Pedrinho caiu de bicicleta e machucou a perna. Camilo foi o primeiro a estender o braço para ajudar. Todas as crianças não entendiam o porquê Camilo ajudara Pedrinho depois do que lhe tinha feito. Pedrinho era o mais constrangido naquele momento, com ajuda de Camilo levantou do chão e chorando pediu perdão pelas vezes que tinha cometido bullyng com ele. Camilo não entendia muito mas deixou claro o seguinte:
- Reconheço que não sou uma criança normal como vocês todos que estão aqui, mas nem por isso vocês têm o direito de me tratar como se fosse um problema. Sinto tudo que vocês sentem e em mim as palavras não pensadas que me dizem doem em dobro! Só quero a compreensão e paciência de vocês para que possamos levar nossa amizade por muitos anos.
Todos começaram a chorar naquele momento. Quem não entendia porque Camilo era um pouco doidinho, passou a ter 100% de compreensão quanto a isso.
E Pedrinho? Pedrinho levou como lição e se tornou outra pessoa depois desse episodio. Nunca mais praticou o bullyng, pelo contrário: Incentivava a todos que podia a serem mais pacientes não so com Camilo, mas com todas as outras crianças, principalmente as que levam algum problema mais sério em suas vidas!.